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EM FORMA DE CRITICA

Maria Inês. 23 anos, estudante de mestrado na área de media e sociedade. Blogue de criticas culturais.

EM FORMA DE CRITICA

Maria Inês. 23 anos, estudante de mestrado na área de media e sociedade. Blogue de criticas culturais.

CRITICA DO FILME VARIAÇÕES

A Aventura dos Sentidos

Janeiro 02, 2020

Maria Inês

“Variações” é uma longa-metragem do realizador e também argumentista  João Maia, uma cinebiografia sobre a vida de António Joaquim Ribeiro nascido no ano de 1944 em Amares, conhecido mais tarde como o irreverente cantor António Variações. Filho de camponeses, com onze irmãos e irmãs, a sua infância foi dividida entre os estudos primários e o trabalho no campo. Para ajudar os pais desde cedo revelou a sua paixão pela música das romarias e do folclore locais que lhe serviram de inspiração.

O projeto que João Maia escreveu e dirigiu sobre o músico e cantor demorou quase duas décadas a ser concluído.

A história passa-se sobretudo entre os anos de 1977 e 1981, altura em que António  Ribeiro, barbeiro de profissão, tentava dar corpo ao seu sonho, a música, gravando as suas primeiras cassetes e tentando viver das suas canções influenciado pelo fado, pela música popular e pelo pop rock, ainda antes de o músico ter conseguido lançar o primeiro dos seus dois únicos álbuns, seguidos pela sua morte em 1984.

Sérgio Praia, que encarna António nesta biografia, sofre uma enorme transformação, o seu desempenho é fantástico e exuberante, talvez um António charmoso em demasia, mas sem o seu contributo não seria a mesma coisa.  Além da interpretação física do músico, o ator também canta todas as canções, recriando as sessões de composição e gravação dos temas em casa com um gravador e uma caixa de ritmos, ou em salas de ensaio com músicos amadores até à sua primeira atuação, na discoteca Trumps, em Lisboa, em 1981. No filme, este parece ser o ponto culminante da sua carreira.

Variações-1.jpg

 

É uma figura principal que prende a atenção do espetador e consegue corresponder ao original num desempenho repleto de emoção e estilo que, aliado à música vanguardista do músico, são a alma do filme. Tudo o resto tenta acompanhar esta energia do ator mas sem grande brilho

A cenografia é muito bem conseguida, tem uma excelente fotografia  e os trajes e maquilhagens correspondem ao desejável para uma boa caracterização do artista e do seu tempo.

O guião mostra algumas fragilidades, entre o passado e o presente perde-se algum ritmo e trabalho sobre pormenores que podiam ser mais profundos e explorar ainda mais o carisma do barbeiro/cantor, que era a sua faceta mais fascinante, porque mais do que ouvir a sua música é vê-lo cantar e isso o ator Sérgio Praia captou na perfeição.

No entanto, vale sempre a pena aprender sobre uma época em que muita gente já começava a só estar bem onde não estava, insatisfeita e incompreendida, uma geração que mostrava o seu fascínio  por António Variações, apesar de no filme ser dada uma visão idealista sobre uma sociedade que vivia em crise, mas onde se movimentavam pessoas inspiradas, criadores, gente que ansiava por inovar sem saber ainda muito bem em que sentido, mas com vontade de mudar alguma coisa.

varia 3.png

 

É um filme importante para dar a conhecer este cantor às novas gerações e mostrar a sua importância e influência para algumas das bandas atuais e talvez o livro sobre António Variações, Entre Lisboa e Nova Iorque, de Manuela Gonzaga, possa ter sido uma grande ajuda.

No filme não é visível o contacto da sua excentricidade visual com as pessoas no dia-a-dia. Não se chega a perceber como foi a verdadeira ascensão do António Variações e como num Portugal conservador dos anos 80, conseguiu cativar o público, até o menos jovem. A sua vida envolta em mistério manteve-se para além do filme que o não desvendou, talvez isso ajude a manter o mito vivo.

 

 

 

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